segunda-feira, 23 de julho de 2007

Omnia mea mecum porto

Em sua Epistulae Morales 9.18-19, Seneca conta esta história sobre o filósofo grego Stilpon (c. 380-300 a.C.):

Com sua terra natal capturada, suas crianças arrebatadas, sua esposa perdida, e enquanto fugia, sozinho e alheio quanto à conflagração pública, Demetrius (cujo apelido, após a destruição das cidades, era Poliorcetes) lhe perguntou se havia perdido algo. Ele disse, "Todas as minhas coisas estão comigo." Que homem forte e firme! Ele venceu a vitória de seus inimigos. "Não perdi nada," ele disse: isso fez Demetrius duvidar do que havia realmente conquistado. "Todas as minhas coisas estão comigo": justiça, virtude, prudência, a verdade era que ele não considerava como pertences o que pudesse lhe ser roubado.

Hic enim capta patria, amissis liberis, amissa uxore, cum ex incendio publico solus et tamen beatus exiret, interroganti Demetrio, cui cognomen ab exitio urbium Poliorcetes fuit, num quid perdidisset, 'omnia' inquit 'bona mea mecum sunt'. Ecce vir fortis ac strenuus! ipsam hostis sui victoriam vicit. 'Nihil' inquit 'perdidi': dubitare illum coegit an vicisset. 'Omnia mea mecum sunt': iustitia, virtus, prudentia, hoc ipsum, nihil bonum putare quod eripi possit.

Cicero, em seu Paradoxa Stoicorum 1.1.8, conta uma história bastante similar, sobre Bias, um dos "sete sábios" da antiga Grécia:

Devo também honrar aquele sábio famoso, Bias eu creio, que é incluído entre os sete. Quando o inimigo capturou sua terra natal e os outros se preocupavam como carregar seus pertences, e quando perguntado porque não fazia o mesmo, ele disse, "Mas eu o estou fazendo; carrego todas as minhas coisas comigo."

nec non saepe laudabo sapientem illum, Biantem, ut opinor, qui numeratur in septem; cuius quom patriam Prienam cepisset hostis ceterique ita fugerent, ut multa de suis rebus asportarent, cum esset admonitus a quodam, ut idem ipse faceret, 'Ego vero', inquit, 'facio; nam omnia mecum porto mea.'

Valerius Maximus 7.2.ext.3 aparenta seguir e elaborar a versão de Cicero:

Quando os inimigos invadiram sua terra natal Priene e todos (ao menos aqueles a quem a selvageria da guerra permitira segurança) estavam preocupados com o peso de suas preciosas propriedades, Bias foi questionado porque não carregava nada do que era seu consigo. Ele disse, "Na verdade, eu carrego comigo todas as minhas coisas," porque as estava carregando em seu coração, não em seus ombros, coisas para não serem vistas pelos olhos, mas valorizadas pelo espírito.

Bias autem, cum patriam eius Prienen hostes invasissent, omnibus, quos modo saevitia belli incolumes abire passa fuerat, pretiosarum rerum pondere onustis fugientibus interrogatus quid ita nihil ex bonis suis secum ferret 'ego vero' inquit 'bona omnia mea mecum porto': pectore enim illa gestabat, non humeris, nec oculis visenda, sed aestimanda animo.

Uma lição a ser seguida, nestes tempos de materialismo exacerbado!

Vale!